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Visão ampliada de Arte marcial

  • Foto do escritor: André Oliveira
    André Oliveira
  • 15 de out. de 2020
  • 5 min de leitura

Prefere assistir ou ler? Abaixo você encontra o mesmo conteúdo em vídeo e escrito.



Eu quero começar quebrando um paradigma, eu quero diferenciar arte marcial de luta.

É claro que as artes marciais foram criadas com o objetivo de derrotar ou até matar um oponente. Porém, nós não estamos mais nesse momento.

Apesar de ambas trabalharem com movimentos corporais de combate, elas possuem objetivos diferentes.

A luta visa o combate em si, ou como alguns preferem dizer também, a defesa pessoal, treinar maneiras de vencer o outro.

A arte marcial, usa os movimentos corporais de combate não com o intuito único de aprender a lutar, mas de desenvolver a si mesmo, ou melhor dizendo, de vencer a si mesmo.

É importante deixar claro também, que nenhum treinamento, seja ele de lutas ou de artes marciais, preparam uma pessoa para uma situação real de combate.

Quando muitos assistem uma luta de MMA, como o UFC por exemplo, acreditam que aquilo é algo muito próximo do real, o que infelizmente tenho que dizer, é um engano.

Pense que aquelas pessoas se preparam anteriormente para aquela situação, com hora marcada, para uma competição com inúmeras regras, com luvas nas mãos, onde não se pode morder, chutar a genital, puxar cabelo ou enfiar o dedo no olho; habilidades muitas vezes necessárias para uma situação de defesa pessoal. Além disso, temos ali um ambiente protegido por redes e roupas confortáveis para aquela situação.

Ou seja, não tem que ver com uma situação real de combate. Temos que pensar, primeiro, uma situação real de combate não é moldável, ela acontece de maneira inesperada, não é possível ter controle sobre o que acontece ou acontecerá a sua volta, segundo que na maioria das vezes em situações reais, onde há o perigo eminente de morte, as pessoas tem sua conduta totalmente modificada e todos aqueles movimentos treinados com habilidade se transformam em movimentos desordenados, pelo fato de naquele momento a pessoa estar sob grande pressão emocional e psíquica.

Então treinar, para simular essas situações, não chega nem próximo ao que é real, treinar com a ideia de que se o outro vier assim, faz-se assado, se reagir dessa maneira, procure a saída por aqui, ou seja, tudo isso são tentativas de moldar ou modular algo que não é moldável ou simulável.

Isso não quer dizer que as práticas não sejam vigorosas e que não possam funcionar em algumas situações, mas o que não posso fazer é dar a ideia falsa para as pessoas de que isso realmente irá acontecer. De que ela através do treinamento será capaz de se defender em uma situação real de perigo eminente de morte; e quero deixar claro que qualquer situação de combate é uma situação de perigo de morte, pensem em um desses socos, mas sem luvas, ou em um desses chutes, sem ter um corpo preparado, mas principalmente a possibilidade de bater a cabeça em algum lugar ao cair ou outras situações que não são controláveis dentro de ambientes civis.

Não podemos nos esquecer de um aspecto muito importante, nessa sociedade, se foi você quem desferiu o soco ou chute, é importante que esteja preparado para enfrentar um processo por lesão corporal grave, inclusive financeiramente. E ainda, arcar com outros prejuízos, como por exemplo no mundo do trabalho ao ter que oferecer um atestado de antecedentes criminais.


Por tudo isso, o treinamento da arte marcial se pauta em outros aspectos, utilizando os exercícios corporais de combate de uma maneira simbólica.

É claro que você irá desenvolver habilidades corporais de defesa pessoal, mas essa defesa pessoal estará pautada principalmente no desenvolvimento da sua percepção, a sua capacidade de captar sinais, de estar atento para antever uma situação que possa se transformar em um conflito físico e que você possa agir por antecipação. Sua capacidade de encontrar saídas em momentos de crise, que captar sinais, que uma pessoa que não acessou esse nível de conhecimento deixará passar, mas você que aprendeu uma arte marcial estará mais sensível para captar essas informações e contornar situações em momentos críticos.

Ou seja, usar a arte marcial para desenvolver sua potência, não o seu potencial, por que quando falamos em potencial, isso quer dizer que já existe uma implicação, ou seja, que a sua potência já foi designada em prol de algo. O que queremos aqui é um estagia anterior, onde você descobre suas potências, sem que elas precisem ser colocadas em prol de nenhum projeto ou objetivo, para que você possa decidir como e onde quer utilizá-las.

Agora então quero dar uma definição para arte marcial, lembrando que esse é um termo ocidental e por isso sua interpretação tem que ser feita a partir de referências do ocidente.

Definição de arte de André Malraux – um francês, escritor sobre cultura e arte, que inclusive foi enterrado no Panteão de Paris, local destinado a personalidades notáveis da França.

Arte – Tentativa de dar aos homens consciência da grandeza que ignoram em si mesmos.

A tentativa de forçar os seres humanos a desprezarem a si mesmos é o que ele chamava de inferno.

Ou seja, o uso da arte para extrair algo que está escondido dentro de nós, para não desprezarmos nossa potência, mas sim extraí-la e aprimorá-la.

Marcial - vem de Martes – Deus da Guerra – cultuado pelos romanos. Era um Deus poderoso, com a capacidade de trazer a paz, ou de apaziguar as paixões, e por isso também era cultuado como o deus da agricultura, por sua capacidade de apaziguar inclusive as forças da natureza. É dito que ele ao andar pelos campos de batalha era acompanhado por duas outras figuras, Virtu e Honor, ou seja, a virtude e a honra.

A origem do nome Marte suscita inúmeras possibilidades, e suas raízes podem vir de Mas – que significava força geradora, de Mar – brilhar, ou ainda de Marte Gradivus, que vem da palavra grandiri, que significava tornar-se grande ou crescer. O que nos importa não é ter a certeza da raiz do nome, mas perceber que todos essas possibilidades suscitam uma percepção de força interior, de energia pessoal e talvez por essa razão Martes simbolizasse também a ideia de guerra interior.

Se juntarmos então a definição de arte Malraux com os simbolismos de Martes teremos uma ideia de Arte Marcial como: A constante luta interna do ser humano para identificar a grandeza existente em si.


Dessa forma, queremos usar a arte marcial para transformar e melhorar nossa conduta, perceber como nos comportamos em momentos críticos para nos aprimorar e enxergar melhores soluções, soluções que uma pessoa destreinada não enxergaria, ou seja, nos distanciarmos de uma visão estreita e rasa sobre como resolver problemas e conflitos.


Porque para nós, o ringue é a nossa própria vida diária e as lutas acontecem todos os dias.

 
 
 

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